sexta-feira, 4 de julho de 2008

Sí Se Puede Tour 2008 // Capítulo 1: Clube Irmão Caminhoneiro Shell

Já eram quase 5h daquele Sábado e nós cruzávamos o vão da Ponte do Guaíba, marco zero do que planejamos durante os quatro meses anteriores. A viagem começava com atraso de quase 12 horas, já que as coisas ruins acontecem sempre nas horas mais impróprias e o Mauricio ficou preso no escritório até poucos momentos antes do início de tudo. Mas enfim, lá estavámos tomando o rumo oeste, ainda sob a escuridão. Passados 600km e algumas tentativas de romper a barreira do som, no final da manhã passamos a mui simpática Ponte Internacional Brasil-Argentina, chegando ao município de Paso de Los Libres.

RBS Mente! Argentina = verdade absoluta

Distantes mais de 2000km, Mendoza seria nossa primeira cidade a ser visitada. Se saíssemos no horário combinado, chegar até lá seria impossível. Mesmo dormindo 6h antes, sabíamos que nosso objetivo era tocar até onde o corpo agüentasse. Santa Fé, Córdoba talvez. Para piorar, começamos a sofrer com a falta de gasolina no país vizinho. Por precaução, o tanque nunca devia ficar abaixo de 1/4 da sua capacidade. Contudo, o primeiro susto aconteceu logo no primeiro trecho em solo platino. As várias cidades que constavam nos mapas não passavam de humildes vilarejos; a estrada considerada principal era uma faixa de asfalto no meio do nada, sem sinalização no chão e placas sequer. A tensão tomou conta até que apareceu a acolheradora "cidade" de San Jaime de La Frontera, onde abastecemos e almoçamos.

Ansiedade para conhecer o cozinheiro do local

Seguimos com tanque e barriga cheios e, pelas contas do nosso navegador, chegar até Mendoza naquela noite passou a ser uma possibilidade, ainda que dependesse de fatores externos. Fatores esses que contribuíam com nossa missão: gasolina disponível, estrada vazia, pista plana e quase sem curvas. Era metade da tarde quando chegávamos à cidade de Paraná, muito antes do previsto. Ali, teríamos que passar por um túnel por debaixo do Rio Paraná até a cidade de Santa Fé. Aí, a sorte esvaziu-se. Pista bloqueada, fomos informados pela polícia local que o túnel havia sido interrompido não fazia sequer meia hora por caminhoneiros. Os hermanos sofrem com o problema do campo. Taxados abusivamente pelo matrimônio presidencial Kirchner (só na Argentina mesmo...), os ruralistas resolveram protestar bloqueando estradas e impossibilitando a chegada de alimentos à população. Os transportistas, com suas cargas paradas nos vários bloqueios, também protestavam, fazendo... bloqueios!

Enquanto crianças jogavam bola no outro lado da pista, estudávamos alternativas com os locais. Nenhum sucesso. A paralização era geral. Só nos restava aguardar e torcer para uma solução rápida. A polícia nada fazia. "Isso é problema do governo federal", diziam. Ótimo: a polícia organiza o protesto, ninguém se movimenta na cidade e a culpa é do sistema. Maravilha.

Irmão caminhoneiro! Obrigado e boa viagem!

Quando era criança, assistia ao Clube Irmão Caminhoneiro Shell nos domingos de manhã, na Bandeirantes. "Ser caminhoneiro deve ser legal, conhecer vários lugares, que bacana!" pensava. Piá é ingênuo pacas.

Três horas e meia depois, houve um acordo e a pista foi liberada, mas não sob tranqüilidade. Ameaçavam bloquear todas as rotas do país. Parar a Argentina. Chegar em Mendoza naquela noite virou questão de sucesso do planejamento da viagem.

Alternando no volante, eu e Otávio comandávamos a viagem conduzindo um Mauricio quase sem dormir na carona. Em Santa Fé, mais dificuldades para abastecer. Seguimos via Rio Cuarto, passando por piquetes dos caminhoneiros que ficavam a noite nas beiras das estradas sob o fogo de pneus queimados.

Pista em más condições, sinalização inexistente, cansaço. Na madrugada, um minuto de descanso do navegador nos faz perder uma saída e andar 40km além do necessário. Retomamos o caminho certo e, quando parecia que as coisas continuariam complicadas, eis que surge o oásis: uma estrada de pista dupla e iluminada e toda sua extensão nos 100km que ligam San Luís à Mendoza.

Às 5h de Domingo, ela surge. Mal podemos acreditar. Na escuridão, o único sinal do Andes é um ponto de luz alto, no horizonte. Importante é que a cidade estava ali, o hotel estava ali e, o mais importante, nossas camas estariam ali.

A viagem estava apenas começando.

Um comentário:

Unknown disse...

Depois de ler sobre a "mui simpática Ponte Internacional Brasil-Argentina", eu esperava ver alguma foto um pouquinho mais interessantes que o sinal obseno para o camioneiro. Ainda mais levando em conta o cenário da foto: um tunel! (?!?)
Apesar da decepção, valeu a piada... adimito que achei engraçada!
Beijos,
Mimi