segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Perdido na noite

Último sábado a noite freqüentei a Cidade Baixa, mais especificamente a região da Rua João Alfredo.

Prédios a um assopro de desmoronar, calçadas - quando existem - similares à superfície da Lua, odor onipresente de urina, quatrocentos-e-vinte-e-doze flanelinhas enlouquecidos, duzentas-e-quarenta-e-dez pessoas pedindo esmolas e recolhendo absolutamente TUDO que há no chão.

Se passasse alguém cantando "Tricolooor, tricolooor, tricolor, tricolor, tricoloooor!" eu poderia jurar que estava indo para algum jogo no Olímpico.

E eu ainda havia colocado meu melhor perfume para ir até lá.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Na zona de desconforto

Estava eu no meio de um curso de negociação esta semana, em um grupo de 5 pessoas discutindo práticas e técnicas para obtenção de melhores resultados. Durante a conversa, uma das colegas diz: "Eu sofri muito nessa vida, tive que batalhar bastante". Logo imagino que ela passava os dias e as noites entre o trabalho e os estudos, matando horas de sono para tentar ajustar seu orçamento à apertada receita que deveria possuir. Ledo engano, pois em seguida ela completa: "Meu pai pagava minha faculdade e eu tinha que pagar a gasolina do carro".

Nada contra a moça. Meu pai não pagou a faculdade porque estudei em universidade pública gratuita e de qualidade, mas sei que mesmo que tivesse que freqüentar aulas em uma particular, ele auxiliaria. Gasolina sim, ele auxiliou bastante nessa vida. A diferença é que, ao contrário dela, não me coloco na posição de coitadinho, como se a vida tivesse sido muito dura comigo. Não, não foi.

Algumas pessoas acham que, transmitindo essa idéia, conquistarão a simpatia das outras pessoas. Com isso, talvez consigam uma oportunidade mais vantajosa, já que trarão consigo uma imagem de pessoa batalhadora, que superou dificuldades. Quem sabe, lado a lado com uma pessoa devidamente experiente e qualificada, o fator superação poderá fazer a diferença a seu favor. Contudo, essas pessoas mal sabem o que são verdadeiramente dificuldades.

Tampouco ousarei dizer aqui o que são dificuldades. Eu não sei. Não as enfrentei como outras pessoas enfretaram, graças a minha família, que é equilibrada e apoiadora. Sorte tenho eu.
Conheço estórias de outras pessoas - algumas próximas, outras nem tanto - que saíram de ambientes extremamente negativos, acomodantes, enfretaram preconceitos, dificuldades financeiras, mas estão batalhando por aí buscando melhorar sua qualidade de vida.

Exemplo disso é o Laécio. Conheci ele lá no interior da Bahia, em Caraíbas, onde o meu amigo Gustavo passa por um período de experiência como dentista na cidade. Lá, trabalhava como faz-tudo na pousada onde Gustavo mora. Visitei-os em Agosto do ano passado. A cidade possui 6 mil habitantes absolutamente acomodados. Recebem todo tipo de auxílio (financeiro, alimentação, transporte, etc) do Município e são felizes com a vida pacata que tem por lá. Poucos sequer conhecem Vitória da Conquista, principal cidade da região que fica distante apenas 80km.

Pois este baiano se interessava pelo mundo que rodava lá fora. Estava informado das notícias do mundo, graças aos noticiários que assitia e também às leituras de Veja, que pegava de rebarba do Gustavo. Conhecia bem a política local e não se deixava enganar pelos benefícios concedidos pelo governo. Sabia que havia vida fora dali. Não tinha medo disso.

Desde Dezembro ele está em Porto Alegre. Ajudado pelo pai do Gustavo, que conseguiu o emprego, está trabalhando para uma empresa de um conhecido dele. Ganha 600 reais por mês, quatro vezes mais do que recebia em Caraíbas. Sua escolaridade é baixa, mas sua vontade é muito alta. Está vivendo praticamente em outro planeta, praticamente sozinho, arriscando praticamente tudo. Mas está aí - e não reclama disso.

Então, senhorita, nunca mais venha me falar em dificuldades. Tu não sabe nada. Procura o Laécio que ele te dá uma lição em experiência de vida.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Me desculpem...

Tá difícil parar em casa. Em Janeiro, dormi mais noites em hotéis, pousadas e casas de amigos que na minha própria cama. Chega uma semana que fico em casa e me arrumam um curso todas as noites chegando as 22h30 em casa. Nem meu cachorro me reconhece mais...

Esse fim-de-semana eu retorno ao espaço cibernético, eu juro.