terça-feira, 14 de outubro de 2008

Tempos modernos

Já passavam das 20 horas e eu me alongava despreocupadamente na academia. Tudo estava absolutamente normal. O instrutor fazia vista grossa para minha preguiça enquanto conversávamos sobre TODAS POSSÍVEIS possibilidades de resultados do Campeonato Brasileiro no final de semana. Na sala ao lado, algumas pessoas pedalavam embaladas por ritmos dançantes estilos anos 90 - jamais entenderei.

A normalidade foi quebrada quase quando eu partia no momento em que uma criança surge no pequeno espaço sem equipamentos, destinado exatamente para o mais matado dos exercícios. Um cotoco, ele agitava na academia mexendo em praticamente todos os equipamentos, cordas e roldanas, sem qualquer tipo de supervisão. Ele é conhecido já dos pseudo-atletas. Seus pais comparecem ao clube com freqüência e obrigam o pobre piá, que pela voz fina e maneira de se expressar, tem cerca de quatro anos, calculo eu.

Não vou nem me ater ao fato de uma criança ser obrigada a passar quase todas as noites entre uma e duas horas pulando entre cross-overs, supinos e hammer-strengths (não me perguntem ao certo que diabos são essas coisas). Aliás, provavelmente se não estivesse ali, estaria exercitando apenas seus dedos em frente a um computador. Mas a conversa não é essa.

Voltando - estava quase saindo quando as teoricas metafísicas do Grêmio no Brasileirão foram interrompidas por aquela voz fina. "O que eu tenho na mão", perguntou ele escondendo as mãos atrás do corpo. O instrutor, de bate-pronto: "um celular". Correto ele estava. Para quê diabos uma criança de QUATRO ANOS tem um telefone celular?

Não me digam que é para emergências. Nessa idade, sempre há alguém mais velho acompanhando-o. Não vai sozinho em shopping, em praça, nem do portão do colégio sozinho ele passa. Não pensem que era um celular qualquer, também. Um Samsung tinindo de novo, visor colorido, de flip, uma beleza. Seguia o piá, pulando pra lá e pra cá, com aquela coisa brilhosa na mão.

E eu, com quatros anos, nem minigame do Tetris tinha.

3 comentários:

G.D. disse...

Estou pensando em VOLTAR A SER comunista, para ficar criticando sem sucesso algum o MERCADO e imagens cotidianas como essas.

Anônimo disse...

Pelo menos o dele tava inteiro!

Gin & Rum disse...

...
Tem coisas que são difíceis de observar...

Já pensaram que sobrevivemos a uma época em que um encontro marcado era um compromisso de verdade?
Se você tivesse marcado com um amigo às 15 horas em frente ao shopping, às 15 horas ou você estava lá, ou tinha sofrido um acidente gravíssimo e estava hospitalizado. Choveu? Reprisou um filme bacana na TV? Ficou com preguiça?... humpf... não existiam desculpas...

E hoje o guri pula entre supinos com o celular...

O foda é que dizem que as coisas ainda vão melhorar...

Um drink. Para nós todos.

Rum.